Vício em comer: especialista analisa relação com exagero alimentar
Adriane Dias, nutricionista do Portal Caiçara, destacou a importância de um acompanhamento profissional no tratamento da compulsão alimentar. Esse tema é extremamente relevante, especialmente considerando os impactos que certos alimentos podem ter sobre o nosso cérebro.
Recentemente, vários estudos sugerem que alimentos ultraprocessados, repletos de açúcar, gordura e sal, podem ativar o nosso sistema de prazer, liberando substâncias como dopamina e endorfina. Essa reação no cérebro é parecida com o que acontece com vícios em substâncias como nicotina e álcool, o que mostra como a alimentação pode influenciar nosso comportamento e emoções.
Adriane é clara ao afirmar que comer é uma necessidade básica, muito diferente do uso de drogas. Enquanto ninguém perde a casa por causa da comida, a abstinência e a tolerância que se observa em dependências químicas não se aplicam da mesma forma à alimentação.
Como o “vício” funciona no cérebro?
Pesquisas em neurociência revelam que alimentos saborosos, como chocolates e frituras, ativam áreas do cérebro associadas ao prazer, como o núcleo accumbens. No entanto, com o consumo constante, a sensibilidade a essas recompensas pode diminuir, fazendo com que seja necessário comer mais para obter o mesmo nível de satisfação. Comparado aos vícios tradicionais, essa resposta é bem mais suave.
Ainda é bom lembrar que outras atividades que nos dão prazer, como exercícios, sexo, meditação ou até ouvir música, também ativam esse sistema de recompensa, mostrando que o prazer humano é bem mais complexo e multifacetado.
Existem alimentos com maior risco de vício?
A resposta é um tanto complexa. A ciência se refere ao “potencial aditivo” de certos alimentos, mas isso não significa que sejam realmente viciantes. A indústria alimentícia tem propiciado cada vez mais produtos que proporcionam uma satisfação imediata, mas que na realidade têm pouco valor nutritivo e muita caloria. Isso nos leva a um consumo excessivo.
Infelizmente, alimentos mais saudáveis, como frutas e legumes, não geram o mesmos tipos de ativação cerebral, mesmo quando são muito gostosos. É uma contradição da nossa alimentação moderna que merece atenção.
Qual o melhor caminho ou tratamento?
Buscar um “tratamento” é crucial, especialmente quando o comportamento alimentar prejudica a vida do dia a dia. Se a pessoa está tendo dificuldade em controlar os impulsos ou está sofrendo com a relação que tem com a comida, a ajuda profissional é essencial. O primeiro passo é começar a se reeducar para comer de forma consciente, percebendo a fome real e identificando emoções que levam ao consumo automático.
Adriane também ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar. Nutricionistas podem auxiliar na formação de hábitos alimentares mais saudáveis, enquanto psicólogos trabalham aspectos emocionais envolvidos com a comida. Por sua vez, médicos avaliam fatores biológicos que possam afetar o comportamento alimentar.
“A ciência reconhece que há similaridades entre a compulsão alimentar e as dependências químicas, mas o que sabemos até agora é que a relação que se tem com a comida é o que mais afeta o controle, e não necessariamente o alimento em si”, conclui Adriane Dias, sempre ressaltando a importância de um olhar empático e profissional nessa jornada de autoconhecimento e saúde.