Pastor de calcinha e peruca: transtorno ou fetiche?

O caso do pastor Eduardo Costa realmente chamou a atenção do público recentemente. No dia 11 de agosto, ele foi filmado em Goiânia andando pelas ruas com uma calcinha e uma peruca, imagens que rapidamente se espalharam nas redes sociais, gerando uma onda de memes e polêmicas. O religioso se defendeu, dizendo que estava passando por uma “investigação pessoal”.

No entanto, a situação se intensificou. Apenas quatro dias depois, ele apareceu novamente em público, agora com uma microcalcinha fio-dental. Essa repetição do comportamento levantou questões entre os internautas: estaria o pastor lidando com um transtorno psicológico, uma compulsão ou até um fetiche sexual? Para ter uma visão mais clara, o Portal Caiçara conversou com especialistas em saúde mental.

Comportamento e Saúde Mental

O psicanalista Artur Costa, que atua na Associação Brasileira de Psicanálise Clínica, comenta que nem sempre comportamentos como os do pastor são indicativos de transtornos mentais. Segundo ele, na psicanálise, isso pode estar ligado a desejos inconscientes ou práticas fetichistas. “O uso da calcinha e da peruca pode ser um símbolo de prazer. O que configura um transtorno é o sofrimento intenso ou a falta de funcionalidade na vida do indivíduo. Se não há essa dor, pode ser apenas uma forma de expressar um desejo reprimido”, explica Costa.

A psicóloga Adriana Schiavone confirma essa ideia, acrescentando que a postura pública nem sempre reflete os desejos privados. “Muitas vezes, pessoas com uma imagem pública rígida vivem em contradição com sua vida íntima. O uso de roupas femininas, por exemplo, pode ser uma maneira de explorar a sexualidade que não pode ser expressa abertamente”, afirma.

Imagem Pública vs. Desejos Privados

Esse contraste entre a vida pública do bispo — que é pastor evangélico e cantor gospel — e suas aparições inusitadas foi interpretado pelos especialistas como um sinal de conflito interno. “O que motiva alguém a viver uma contradição assim é um conflito entre o desejo e a moral. Sua posição como líder religioso exige uma aparência conservadora, mas o inconsciente não se adapta a essas normas sociais, resultando numa vida dupla”, analisa Artur.

Para Adriana, essa tensão reflete a luta interna entre as regras sociais e os desejos pessoais. “A pressão para manter uma imagem perfeita pode obrigar a pessoa a reprimir parte de sua identidade, que acaba se manifestando em momentos privados”, ela completa.

Impactos Emocionais da Vida Dupla

Os especialistas ressaltam que viver uma vida dupla pode ter consequências sérias para a saúde mental. Artur alerta que essa duplicidade pode gerar ansiedade, culpa e até sintomas depressivos. “Quanto mais um desejo é reprimido, mais ele retorna de forma desenfreada, causando um grande sofrimento psicológico”, adverte.

Adriana complementa, afirmando que o peso de viver entre a imagem pública e os desejos privados pode intensificar a ansiedade e a culpa, além de dificultar os relacionamentos saudáveis. “Quando a vida é construída em torno do segredo e da proteção da própria imagem, é comum que ocorram altos níveis de tensão interna”, destaca.

Transtorno ou Fetiche?

Uma dúvida que permeou a discussão nas redes sociais foi se o comportamento do pastor poderia ser classificado como transtorno. Para Artur, a chave está no sofrimento causado pela prática. “Se o que ele faz traz prazer e não afeta sua vida social e profissional, é mais uma expressão sexual ou fetichista. Porém, se isso envolve compulsão ou um risco constante de exposição e sofrimento, pode ser necessário investigar mais a fundo”, explica.

Adriana concorda, afirmando que o impacto na vida da pessoa é o critério principal. “Quando vivido de forma consensual e sem prejuízo para o funcionamento da vida, o fetiche faz parte da diversidade da sexualidade. Mas se há sofrimento intenso ou perda de controle sobre os comportamentos, isso pode caracterizar um transtorno”, acrescenta.

O Papel do Estigma Social

Por fim, os especialistas discutem como o estigma social afeta esse assunto. Artur ressalta que tabus em torno da sexualidade podem levar muitas pessoas a manter seus desejos em segredo. “O medo de ser julgado torna esses comportamentos clandestinos, reforçando a vida dupla e o sufrimento envolvido”, comenta.

Adriana concorda com essa análise. “A pressão da moralidade e o estigma sobre práticas sexuais e expressões de gênero fazem com que muitos escondam partes de si. Isso intensifica a clandestinidade e transforma desejos íntimos em fontes de sofrimento”, finaliza.

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