Dependência digital e seus efeitos na saúde mental

Em meio à campanha do Setembro Amarelo, uma data importante para a prevenção do suicídio, especialistas estão chamando atenção para um tema preocupante: a hiperconexão digital. Sabemos que, atualmente, passamos cada vez mais tempo nas redes sociais, e isso tem impacto direto na nossa saúde mental.

De acordo com a psicanalista Ana Tomazelli, em uma conversa descontraída, o Brasil está em terceiro lugar no ranking global de tempo spent online, só atrás do Quênia e da África do Sul. Em média, os brasileiros gastam cerca de 9 horas por dia na internet, sendo 3h30 dedicadas somente às redes sociais. Isso nos leva a uma reflexão sobre como o uso excessivo dessas plataformas pode contribuir para problemas emocionais, como a ansiedade e a depressão.

Ana destaca uma pesquisa da USP que aponta que estudantes com dependência grave da internet têm uma maior tendência a ter pensamentos suicidas. A tecnologia, embora traga muitas facilidades, também transforma as nossas relações e, infelizmente, pode induzir a sentimentos de isolamento e inadequação.

A Transformação das Relações

A psicanalista observa que a forma como interagimos mudou bastante. Muitas pessoas não conseguem mais desfrutar de momentos com amigos ou familiares sem pensar na necessidade de registrar tudo para as redes sociais. Há quem sinta que precisa criar conteúdo para upload a todo momento, o que pode destruir a autenticidade dos relacionamentos.

Ana também identifica dois grupos de sintomas que podem surgir com essa dependência digital. O primeiro é o que ela chama de sintomas analógicos. São comportamentos em que a vida real acaba girando em torno da necessidade de registrar tudo digitalmente. O segundo grupo, os sintomas digitais, manifesta-se quando a falta de curtidas ou interações em postagens causa angústia.

Além disso, Ana sugere que o simples ato de medir o tempo gasto online x offline pode ser um bom passo para perceber se estamos navegando em águas seguras ou perigosas. Essa “aritmética do tempo” é um ponto importante a ser considerado.

Sintomas Semelhantes a Dependência Química

Surpreendentemente, os especialistas encontram semelhanças entre o uso excessivo de tecnologia e a dependência química. Isso inclui alterações de humor, dificuldade para se concentrar e até insônia. No Brasil, o cenário é alarmante: aproximadamente 18,6 milhões de pessoas enfrentam transtornos de ansiedade segundo a OMS.

Ana destaca alguns transtornos comuns, como a Fadiga de Decisão Digital e a Náusea Digital, que, segundo a psicanalista, estão atrelados ao uso excessivo do celular, impactando diretamente nossas vidas. “Nosso corpo não foi feito para gerenciar essa quantidade intensa de estímulos”, explica.

Cultivando uma Relação Saudável com a Tecnologia

Quando se trata de ajudar os jovens a desenvolver hábitos saudáveis no uso da tecnologia, Ana sugere que pais e educadores comecem observando suas próprias relações com as redes sociais. As conversas abertas com as crianças são fundamentais. Ouvir o que elas consomem, o que gostam de ver, e até mesmo a pedir ajuda quando se sentem perdidos é essencial.

Ela também recomenda monitorar o uso dos dispositivos, especialmente com crianças e adolescentes. Para Ana, essa é uma parte importante da alfabetização digital, que deve envolver conversas abertas. O que não faltam são dicas para manter o olhar atento e proteger os jovens, como: “Se alguém desconhecido entrar em contato, não clique em nada e conte para nós”, afirma.

Esses passos simples podem fazer toda a diferença na forma como navegamos pelas redes, favorecendo uma saúde mental mais equilibrada e relacionamentos mais sinceros.

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