Sanções dos EUA a Moraes e a nova diplomacia digital
A tensão entre Brasil e Estados Unidos ganhou um novo capítulo com a proposta de sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por parte de parlamentares ligados ao ex-presidente Donald Trump. As alegações envolvem supostas violações de direitos humanos e autoritarismo digital. Essa movimentação reacende o debate sobre a interferência internacional e o uso estratégico do direito como uma arma política, segundo o analista de política internacional, professor Vladimir Feijó.
Em entrevista, Feijó destacou que a proposta dos republicanos se baseia em legislações como o Global Magnitsky Act e o International Emergency Economic Powers Act (IEEPA). Esses instrumentos permitem que os Estados Unidos apliquem sanções unilaterais a estrangeiros. No entanto, o professor alerta que essa medida pode ultrapassar os limites do Direito Internacional ao tentar punir um magistrado brasileiro por decisões tomadas em sua jurisdição.

Entendendo o Contexto das Sanções
As sanções propostas têm um caráter claramente político e se alinham ao discurso da ala trumpista contra a censura em redes sociais. No entanto, desconsideram o contexto brasileiro de combate à desinformação e à violência política. O que está em jogo não é Moraes, mas quem dita as regras do jogo democrático no século XXI. É uma ingerência dos EUA querendo alinhamento automático com seus pontos de vista sobre assuntos que geram polêmica, afirmou Feijó.
O estopim para essa tensão foram as decisões de Moraes que determinam remoções de conteúdo e suspensões de contas em plataformas digitais como X e Telegram. Enquanto muitos no Brasil veem essas medidas como essenciais para conter discursos golpistas, setores do governo americano interpretam-nas como censura estatal.
Censura ou Proteção Institucional?
Feijó ressaltou que a exigência de data centers no Brasil já havia despertado preocupações nos EUA, que acreditam que isso dificulta a concorrência e impõe custos a empresas americanas. A crítica pública dos EUA, porém, pode ser um erro diplomático, pois alimenta a percepção de intervenção e fortalece a narrativa brasileira de defesa da soberania.
Essa disputa vai além das tensões entre Brasil e Estados Unidos; trata-se de uma luta global por quem controla as regras democráticas nas redes sociais. Enquanto Washington fala em liberdade, Brasília responde com jurisdição. A guerra das narrativas digitais está redefinindo a diplomacia do século XXI, avaliou o analista.
A Soberania Brasileira em Foco
O Itamaraty e o STF reforçaram que as decisões judiciais brasileiras devem ser respeitadas e que o país não aceitará tentativas de intimidação externa. Para Feijó, a reação do Brasil foi assertiva e sinaliza que o país está disposto a defender sua soberania através da jurisprudência e da diplomacia. Soberania não se grita, pratica-se, enfatizou.
Ele também alertou sobre as consequências desse precedente: se os EUA aplicarem sanções a um ministro brasileiro por motivações políticas, setores como o agronegócio e a indústria, que negociam com China e Rússia, podem ser os próximos alvos de acusações semelhantes.
Mais que um Caso Isolado
Embora Alexandre de Moraes seja o foco atual, Feijó enfatiza que o verdadeiro alvo são os países que resistem ao modelo norte-americano de regulação da internet. Assim, as decisões judiciais, como as de Moraes, podem se tornar armas na geopolítica contemporânea, revelando a complexidade das relações internacionais na era digital.
Esse caso não é apenas uma questão de sanções, mas sim um reflexo de uma nova era de diplomacia digital, onde as decisões judiciais têm repercussões globais e podem moldar o futuro da internet.