O que irá mudar no futuro da agricultura?

Nós falamos muito sobre os avanços tecnológicos da humanidade, como energia, carros, internet,  e é inegável que essas coisas estão evoluindo cada vez mais,  e mais rápido.

O que não falamos muito é que pra tudo isso ser possível uma grande   evolução teve que ocorrer no setor mais importante da humanidade: A Agricultura.

Veja bem, o mundo moderno nos dá uma vida com uma quantidade de facilidades que às vezes não   damos o devido valor.

Primeiro que nós temos um lugar seguro pra viver, com eletricidade,   internet e água vindo até a sua casa.

E segundo, e talvez o mais importante, não precisamos   produzir nossa própria comida, resolvendo tudo com uma rápida viagem ao supermercado,  onde temos a disposição praticamente tudo que precisamos a um preço bem acessível.

É estranho pensarmos que isso é normal hoje e pensar em produzir o próprio alimento é   algo estranho.

Mas se analisarmos, seria impossível a humanidade evoluir a ponto de   pensar em exploração espacial, se estivéssemos muito ocupados produzindo o próprio alimento.

Agora, o quão rápido evoluímos na produção de alimentos?  O quanto ainda temos pra evoluir? E o que nos espera no futuro?  Essas são exatamente as pergunta que responderemos nesse vídeo.

A evolução da agricultura e seu crescimento

Até o início do século 20, produzir o próprio alimento era o meio de vida padrão,   onde a maioria dos alimentos vinham de pequenos produtores rurais próximos,   onde era cultivado aquilo que a terra e o clima permitiam.

E essa não era a atividade econômica da época, era a atividade de sobrevivência.   A maioria da produção servia para alimento próprio e de sua família.

Segundo o artigo de D.B Grigg intitulado The World’s Agricultural Labour Force 1800-1970,   até o fim do século 19 ¾ da população mundial economicamente ativa estava   empregada na agricultura.

Porém as coisas começaram a mudar a partir dos anos de 1900. Segundo dados do artigo, em 1900 aproximadamente 72,1% da população   mundial trabalhava na agricultura, até 1970 esse número tinha caído para 51%.

Segundo Grigg,   esse movimento ocorreu primariamente pelo crescimento na especialização do trabalho rural,   aumento do comércio e industrialização, que somado geraram aumento na produtividade.

E esse percentual cai até hoje. Segundo dados do banco mundial,   em 1991 mais de 43% da população mundial ainda trabalhava na agricultura, em 2020 apenas 26%.

Agora mesmo sendo uma queda vertiginosa, passando de ¾ da população para ¼ trabalhando   na agricultura em pouco mais de 100 anos, talvez você esteja pensando que esse ainda   é um número alto, afinal uma em cada quatro pessoas trabalha na agricultura.

E de fato isso é verdade, esse número não representa a realidade nem do Brasil,   que é referência no setor, e muito menos de um país (considerado?) desenvolvido.

Por mais que o avanço tecnológico tenha reduzido a participação na mão de obra na   agricultura global, os países mais desenvolvidos tiveram uma redução muito mais expressiva: Nos países mais desenvolvidos, a queda foi de 48% em 1900 para 13% em 1970 segundo Grigg,   enquanto nos países em desenvolvimento, caiu apenas de 77,9% para 65,2%.

Isso aconteceu primariamente pelo grande aumento da produtividade puxado pela revolução   industrial.

Máquinas motorizadas, energia elétrica, sistemas de irrigação entre uma   série de outros avanços permitiram que regiões mais desenvolvidas produzissem cada vez mais,   com menos pessoas em uma mesma área de terra, ou até em espaços menores.

Ao mesmo tempo, a industrialização impulsionou o êxodo rural, onde cada vez mais pessoas foram   migrando do campo para as cidades, buscando melhores trabalhos e condições de vida.

O aumento de produtividade fez com que o valor do trabalho em uma fábrica ou em outra atividade em   grandes cidades valesse muito mais que a mesma mão de obra no campo.

O que com o crescimento   do mercado global fazia muito mais sentido eu importar alimentos do que produzir eu mesmo,  assim um país realoca sua mão de obra que antes ficava no campo para as fábricas,  em contrapartida exportando máquinas e outros bens industrializados, que gera um lucro muito maior.

É claro que nenhum país terceiriza 100% da produção de alimentos,   visto que é algo de necessidade básica da população, porém focar onde você é   mais eficiente e terceirizar atividades de baixo valor agregado parece ser uma estratégia lógica.

Isso é exatamente o que acontece na vida de uma família que começa a aumentar a sua renda,   atividades mais simples começam a deixar de fazer sentido serem feitas.

Por exemplo,   por que você iria cortar sua grama, limpar sua casa ou lavar o próprio carro,   quando a sua hora de trabalho vale mais do que a hora de uma pessoa especializada nisso?

Dessa forma países com maior disponibilidade de terra para produção, climas mais favoráveis   e mão de obra mais barata se tornam o destino ideal para aquilo que não   é tão economicamente interessante pra um país mais desenvolvido produzir.

E o Brasil é um desses lugares. Quando comparamos os números de pessoas na atividade agrícola do Brasil comparado   ao resto do mundo, tudo indica que estamos fazendo um grande progresso: Em 1991 o Brasil já empregava menos de 19% na agricultura, menos da metade dos dados globais   da época e menor que os dados globais atuais.

Em 2020 esse número caiu pela metade, apenas 9%. O que considerando que estamos há bons
anos entre os 5 maiores exportadores de   alimentos do mundo, isso é realmente interessante.

Porém, quando comparamos com os Estados Unidos, que é o maior exportador de alimentos do mundo,   vemos que ainda temos muito progresso pela frente, já que os Estados Unidos em 1991 já empregavam   menos de 2% na agricultura, apenas 1,9%, em 2020 apenas 1,3%, média que mantém desde 2006.

Embora a empregabilidade percentual tenha reduzido pela metade no setor,   o Brasil não vem produzindo menos alimentos, muito pelo contrário.

Temos que considerar que entre os anos de 1991 e 2020 a população Brasileira cresceu em quase 40%,   passando de 151 milhões para mais de 211 milhões segundo dados do banco mundial.

Ao mesmo tempo, houve um grande aumento da produtividade. Segundo dados da Embrapa, entre   1977 e 2017 a produção de grãos cresceu mais de 500%, enquanto a área plantada cresceu apenas 63%.

Isso ocorreu principalmente pela evolução do rendimento médio das lavouras, representado   pelo crescimento de quilos de alimento produzido por hectare de terra.

Durante o mesmo período,   o aumento médio do rendimento foi de 301%, com destaque para a produção de arroz,   que teve um aumento de 414% da produção de grãos por hectare e do milho e trigo,   que tiveram um aumento de aproximadamente 340%.

Porém o futuro é incerto pela frente, o crescimento populacional sozinho já   coloca pressão sobre o sistema atual e a capacidade produtiva mundial.

Ao mesmo tempo   temos um crescimento da classe média mundial, que não só aumenta a demanda de alimentos como   muda os hábitos de consumo. E por último, a pandemia de 2020 nos mostrou que depender do   comércio internacional para uma necessidade como a alimentação, pode não ser a melhor estratégia.

Segundo o artigo Alternatives to Food Import Dependency, de Uwe Hoering, publicado em 2013,   a dependência de importação já vinha se tornando um problema em regiões sub-desenvolvidas,   com destaque para o Oriente Médio e África Subsariana.

Segundo Hoering,   a importação prejudicou diretamente o desenvolvimento rural desses países,   impossibilitando ou severamente limitando a capacidade de auto suficiência na produção   de alimentos, que por sua vez foram prejudicados com os aumentos de preços.

Mas esse não é um problema exclusivo de países subdesenvolvidos,  países desenvolvidos também estão atentos a dependência internacional de alimentos, e a pandemia de 2020 deixou isso ainda mais claro.

Ao longo de 2020 essa visão foi um tanto quanto comum, especialmente em países desenvolvidos,   segundo matéria do Food Safety Tech a falta de insumos reduziu a produção de alimentos,   a incerteza fez com que pessoas o estocassem,   e a redução de serviços fez com que os produtos simplesmente não chegassem ao consumidor.

O termo mais usado pra descrever este tipo de problema é Food Security,  ou Segurança Alimentar em português.

A capacidade produtiva se integra com o crescimento populacional

Agora, independente de mudanças logísticas,   o crescimento populacional vai colocar uma
pressão significativa na capacidade produtiva,   especialmente considerando a limitação da
capacidade de produção no modelo atual.

Quão importante é nos prepararmos pra isso? E quão sério é? Ao mesmo tempo, a população está aumentando, até 2050 a população   mundial deve chegar perto de 10 bilhões de pessoas segundo dados das Nações Unidas,   isso representa um crescimento populacional de mais de 25% em apenas 30 anos.

Se isso não fosse preocupante o suficiente, temos ainda o crescimento da classe média mundial, o que   não deve ser interpretado de forma errada, já que o aumento de poder de compra da sociedade é bom,   o problema neste caso é que aumenta a demanda por carne, o que pode ser ainda mais preocupante.

Não me leve a mal, eu sou gaúcho, eu adoro carne,   mas aqui estão os dados de porque isso pode ser preocupante: De toda a superfície da terra, apenas 29% é terrestre, os demais 71% são água.

Dessa superfície terrestre, só 71% é habitável,   enquanto 10% estão abaixo de geleiras e 19% são terra árida.

Dessa área habitável, 50% é destinado a agricultura, 37% são florestas,   11% são de arbustos ou pastagem, 1% de água potável como rios e lagos, e 1% de área urbana,   com todas as cidades do planeta.

Por isso, no Brasil há projetos para minimizar o impacto no meio ambiente, como é o exemplo da análise de água em sorocaba que visa achar soluções alternativas de abastecimento de água potável para consumo humano entre outros.

Desses 50% destinado a agricultura,   77% é destinado para a criação de animais, desde o espaço físico pra criação quanto ao   cultivo pra alimentá-los. Apenas 23% de fato é usado pra plantio do alimento que consumimos.

E mesmo que ¾ de toda a terra produtiva seja destinada a produção de carne e derivados,   isso representa apenas 18% do consumo calórico global,   entre carne, leite e ovos. 82% das calorias vem de grãos e vegetais.

Dessa forma o crescimento populacional aumenta a demanda de alimentos,   que tem um espaço físico limitado, ao mesmo tempo o crescimento da classe média coloca   pressão para o aumento da produção de carne, que compete diretamente com a produção de grãos.

No caso do gado, o animal chega a consumir 7kg de grãos e mais de   15 mil litros de água pra cada quilo de carne que ele produz.

Mas ao longo da história a humanidade sempre enfrentou adversidades e estamos   aqui até hoje, e nesse caso não é diferente.

E quem parece estar liderando é a Holanda. Embora seja um país pequeno e com alta densidade
populacional, onde o custo da terra e mão de   obra são caros, a Holanda conseguiu se tornar o
segundo pais que mais exporta alimentos do mundo,   atrás apenas dos Estados Unidos, e isso só aconteceu porque eles viram   que precisariam ser mais eficientes pra serem competitivos no mercado global.

Com limitações geográficas, eles viram que o caminho tradicional de aumentar o número de   hectares de produção não era uma possibilidade, assim o único caminho seria aumentar a produção   por hectare.

Dessa forma, eles decidiram investir no que é conhecido como agricultura de precisão. Segundo o coordenador-geral de Tecnologia, Inovação e Recursos Genéticos do Mapa,   Fabrício Vieira Juntolli conforme matéria da Revista Globo Rural, Agricultura de Precisão,   ou simplesmente AP, compõe um sistema de gerenciamento agrícola baseado na   variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva e permite uma exploração mais racional   dos sistemas produtivos, levando à otimização do uso dos insumos,   ao aumento da lucratividade, da sustentabilidade e a minimização dos impactos ambientais.

Basicamente é usado tecnologias como Inteligência Artificial, Análise de Big Data, Geolocalização,   automação e robótica para automatizar processos e tratar cada planta de forma individual,   dando exatamente o que ela precisa, o que
por sua vez reduz muito o consumo de água,   energia elétrica, adubos e pesticidas,
com o mínimo de impacto no meio ambiente.

Ok, mas na prática, como exatamente eles estão fazendo isso e quais são os resultados? Quando você tem limitações de recursos, eficiência se torna o único caminho, assim com uma parceria   do governo, instituições de ensino e a iniciativa privada, eles foram abrindo um novo caminho pra   produção sustentável.

Seu lema: produzir o dobro de alimento com metade dos insumos. O seu modelo de produção em estufas é o que mais impressiona.

A eficiência atingida na produção de   tomates, por exemplo, é incrivel. Em um cenário convencional de plantio no campo na Espanha,   você consegue produzir em média 4 kg de tomates por metro quadrado.

Em uma   estufa tecnológica na Holanda, você consegue produzir 80 kg de tomate por metro quadrado,   o representa 20x mais, e talvez o mais interessante, com apenas ¼ do consumo de água.

Considerações Finais

Teremos um novo modelo de cultivo, mais eficiente,   sustentável e que não dependa tanto do mercado global pra suprir necessidades básicas?

Bom, nós não temos como prever o futuro, mas se esse tipo de tecnologia começa   a se difundir pelo mundo, podemos conseguir produzir todo alimento necessário localmente,   com menos recursos, menos impactos ambientais e com uma logística muito mais simples.

Dessa   forma o impacto de uma possível pandemia seria menor, ao mesmo tempo que conseguiríamos nos  adaptar ao crescimento populacional e mudanças no padrão de consumo global.

Inclusive existe uma série de outros movimentos acontecendo em paralelo no mundo,   e um deles é o investimento em aquicultura, com a produção de alimentos no mar,   inclusive em águas profundas.

Veja também: Vale a pena investir na carreira de biotecnólogo no Brasil?

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