Como a IA está transformando o futebol dentro e fora de campo

A revolução da inteligência artificial (IA) está mudando a cara do futebol. Antes, decisões importantes eram tomadas apenas com base no instinto de técnicos, olheiros e dirigentes. Agora, essas decisões estão sendo influenciadas por algoritmos poderosos que analisam milhões de dados em segundos. Como resultado, questões como quem contratar, como treinar e qual tática aplicar estão ganhando respostas mais objetivas. O futebol se tornou um verdadeiro laboratório de inovações tecnológicas.

### Do scout ao código

O tempo dos relatórios em papel e das observações manuais já é passado. Plataformas como a Plaier, na Alemanha, e o Scout Advisor, desenvolvido pelo Sevilla, mudaram a forma de pensar sobre o esporte. Elas analisam não só estatísticas comuns, mas também desempenho físico, métricas emocionais e até padrões de comportamento dos jogadores.

No Sevilla, por exemplo, o sistema funciona como um “conselheiro digital”, usando ferramentas como a watsonx da IBM para oferecer análises de mercado e sugestões de novos jogadores. Isso ajuda a diretoria a tomar decisões mais informadas na hora de reforçar o time.

E não para por aí! O Liverpool se uniu à DeepMind, do Google, para criar o TacticAI, um software que sugere variações táticas para jogadas de bola parada. Em um estudo, mais de 90% das sugestões geradas pela IA foram aceitas por especialistas, mostrando como homem e máquina podem trabalhar juntos em campo.

### O algoritmo como dirigente

Os clubes menores estão enxergando a IA como uma verdadeira estratégia de sobrevivência. O Bochum, da Alemanha, por exemplo, aposta na tecnologia para reconstruir sua equipe após uma queda de divisão. Com a ajuda da Plaier, vão usar a IA para definir contratações, montar elencos e até selecionar novos executivos, tudo para diminuir a margem de erro e tornar as decisões mais previsíveis.

No Brasil, startups como Footbao e Cuju estão transformando peneiras em plataformas digitais. Elas analisam vídeos de aspirantes e cruzam dados de desempenho, permitindo que mais jovens tenham acesso às avaliações dos clubes. Mas esse acesso também levanta questões sobre quem realmente controla e se beneficia dos dados dos atletas, especialmente os menores.

### Entre a precisão e o imponderável

Futebol é, por natureza, um jogo cheio de surpresas. Ninguém consegue prever um erro na cobrança de um pênalti ou uma jogada genial de um craque. Embora os algoritmos possam ajudar a minimizar as incertezas, a emoção e a intuição continuam sendo essenciais. Um dos fundadores da Plaier resumiu bem essa relação: “O algoritmo não toma a decisão, ele apenas ilumina o caminho”.

No entanto, o aumento do uso de IA traz dilemas éticos. Especialistas em direito esportivo estão alertas quanto ao risco de viés nos algoritmos que, muitas vezes, podem reproduzir desigualdades históricas. As legislações atuais, como a Lei Geral do Esporte no Brasil e o Regulamento Geral de Proteção de Dados na Europa, ainda não tratam especificamente do uso dessas tecnologias, criando um campo cinzento em torno da inovação e da responsabilidade.

### A fronteira do futuro

A presença da inteligência artificial no futebol é uma realidade que veio para ficar, mas ainda está aprendendo a se integrar ao mundo do esporte. Hoje, a tecnologia não substitui os profissionais que fazem parte dessa história; ao contrário, ela potencializa a capacidade de análise e compreensão do jogo. No futuro, as linhas entre máquina e humano podem se misturar. A pergunta não é mais se a tecnologia vai impactar o futebol, mas sim até onde o esporte vai permitir essa transformação.

Entre dados, algoritmos e inúmeras informações, a essência do jogo ainda é guiada por algo que nenhuma máquina consegue replicar: a humanidade do erro, a intuição e a paixão.

você pode gostar também