Especialistas rebatem declaração de Trump sobre paracetamol e autismo

O aumento dos diagnósticos de autismo nos EUA nos últimos 25 anos está levantando discussões sobre suas possíveis causas. Recentemente, o ex-presidente Donald Trump e o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., divulgaram um relatório que aponta o paracetamol, o ativo do Tylenol, como um possível fator relacionado ao autismo, especialmente quando utilizado por gestantes para tratar febre e dor, junto com outras questões como vacinas, uma teoria já refutada por várias pesquisas.

Para entender melhor essa situação, o Portal Caiçara conversou com especialistas como a psiquiatra Roberta França, o neurologista André Leão e o ginecologista Javier Miguelez. Eles compartilharam suas perspectivas sobre as declarações do presidente e esclareceram a complexidade do autismo.

Informações e Desmistificações

A psiquiatra Roberta França foi bastante clara: não há evidências científicas que conectem o uso de paracetamol durante a gestação ao autismo. “Não há provas que associem o consumo de paracetamol por gestantes ao transtorno do espectro autista. Fatores genéticos e ambientais são os principais responsáveis”, destacou ela, enfatizando que o autismo é uma condição complexa.

Ela explicou que existem medicamentos que podem, de fato, ter efeitos negativos no desenvolvimento do feto, mas o paracetamol não está nessa lista. O foco, segundo Roberta, é sempre proteger a saúde e o desenvolvimento da criança, e isso é feito orientando as gestantes sobre medicamentos que devem ser evitados.

Além disso, estudos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) identificaram diversas influências, como poluição do ar e infecções durante a gravidez, que podem aumentar o risco de autismo. “É importante lembrar que idade materna avançada, complicações na gravidez e partos prolongados também são considerados fatores de risco”, completou.

O Perigo das Fake News

Roberta chamou atenção para a preocupação que informações erradas podem causar, especialmente em mães gestantes que podem precisar de determinados medicamentos. A desinformação gera ansiedade e não ajuda em nada a saúde pública. “Por isso, é vital buscar informações em fontes confiáveis e científicas”, afirmou.

Visão dos Especialistas

O neurologista André Leão concordou com Roberta, ressaltando que não há um vínculo comprovado entre paracetamol e autismo. Ele explicou que eventos observacionais podem indicar associações, mas isso não significa que um fator causa o outro. “Entrar nessa simplificação pode desviar nossa atenção dos verdadeiros fatores que merecem mais estudo e prevenção”, destacou.

André também observou que o aumento dos diagnósticos de autismo não é uma epidemia, mas sim um reflexo de critérios diagnósticos mais abrangentes e uma maior conscientização sobre a condição.

Importância do Pré-Natal

O ginecologista Javier Miguelez ressaltou que não há métodos conhecidos para prevenir o autismo, mas que o pré-natal adequado é fundamental. É essencial manter uma alimentação equilibrada e evitar substâncias nocivas durante a gestação. Ele também reforçou que o uso de medicamentos deve sempre ser supervisionado por um médico.

Em relação ao paracetamol, Miguelez confirmou que não existe evidência sólida de que ele aumente o risco de autismo, apesar de algumas pesquisas sugerirem associações sem relação de causa.

O Que é o Autismo?

O transtorno do espectro autista (TEA) abrange dificuldades de comunicação, desafios sociais e comportamento repetitivo, com gravidade variando bastante entre os casos. O diagnóstico é baseado em observações médicas e relatos de familiares, já que não existem testes laboratoriais que confirmem a condição.

Analisando as Evidências

Há mais de uma década, o uso de paracetamol na gravidez tem sido estudado. Embora algumas pesquisas tenham indicado riscos, outras não encontraram uma relação direta. Um estudo recente na Suécia, com 2,5 milhões de crianças, mostrou que a associação desaparecia ao comparar irmãos nascidos da mesma mãe, reforçando a complexidade da questão.

Vacinas em Debate

A controvérsia em torno das vacinas e sua relação com o autismo começou no final dos anos 90, mas a pesquisa inicial foi desmentida por estudos maiores. O médico que fez a afirmação perdeu sua licença e a comunidade científica não encontrou mais apoio para tal teoria.

Por que o Diagnóstico Aumentou?

Atualmente, cerca de 1 em cada 31 crianças nos Estados Unidos é diagnosticada com autismo, um aumento em relação a 1 em 150 no ano 2000. Essa mudança é atribuída a novos critérios diagnósticos e maior conscientização sobre o transtorno. O diálogo aberto nas redes sociais e a triagem universal nas consultas médicas também ajudam as famílias a buscar suporte e informação.

você pode gostar também