Mais jovens obesos do que desnutridos, revelam especialistas

O alerta é sério: atualmente, há mais jovens com obesidade do que com desnutrição no mundo. Essa informação impactante vem de um estudo recente da Unicef, que deu o que falar e que motivou o Portal Caiçara a conversar com duas especialistas no assunto: a endocrinologista Dra. Marília Fonseca e a nutricionista Adriane Dias. Ambas trouxeram pontos cruciais sobre o que está por trás desse fenômeno.

A Dra. Marília Fonseca, que é diretora da área médica da Novo Nordisk no Brasil, ressalta que, para enfrentar a obesidade juvenil, um grande desafio é o estigma que envolve a condição. Muitas pessoas ainda veem a obesidade como uma falha de caráter, em vez de enxergá-la como uma doença crônica complexa. Essa visão preconceituosa dificulta que pais e jovens busquem ajuda profissional, atrasando diagnósticos e tratamentos.

Já a nutricionista Adriane Dias aponta que os desafios vão além do estigma. Segundo ela, o ambiente alimentar em que os jovens estão inseridos favorece o consumo de alimentos ultraprocessados em vez de opções mais saudáveis, como frutas e verduras. Esses produtos, além de serem mais baratos e práticos, são aqueles que vemos com mais frequência na publicidade, infelizmente competindo de maneira desigual com uma dieta saudável. E, para complicar ainda mais, temos o sedentarismo, que aumentou significativamente devido ao tempo que se passa em frente às telas e à falta de espaços adequados para a prática de exercícios físicos.

Outro fator que não podemos ignorar é a desigualdade social. Famílias com menor renda, por exemplo, acabam tendo mais dificuldade em acessar alimentos saudáveis e muitas vezes optam por alternativas mais baratas e menos nutritivas. Adriane destaca a necessidade urgente de uma educação alimentar nas escolas e no dia a dia, algo que poderia ajudar crianças e adolescentes a fazerem escolhas alimentares mais conscientes.

Os números não mentem: segundo o estudo da Unicef, o número de jovens com obesidade triplicou desde 2000. A Dra. Marília explica que, por trás desse aumento, estão fatores genéticos, metabólicos e ambientais. Mudanças no padrão alimentar, com a ascensão dos produtos com baixo valor nutricional, e a queda na atividade física são os grandes motores dessa epidemia. Para os pais, ela sugere que, ao invés de se sentirem culpados, procurem informações de qualidade e promovam um ambiente saudável, com uma alimentação equilibrada e incentivo à prática de exercícios. O diálogo aberto com os filhos e um acompanhamento médico adequado também são fundamentais.

Adriane complementa que o aumento dos alimentos ultraprocessados está intimamente ligado à transformação da alimentação no Brasil. Nossa dieta tradicional, rica em arroz, feijão e frutas, foi substituída por opções refinadas e cheias de açúcar e gordura ruim. Para enfrentar esse desafio, ela recomenda que os pais não proíbam, mas sim incentivem hábitos saudáveis dentro de casa. Cozinhar juntos, oferecer opções naturais e mostrar que comer bem pode ser gostoso são apenas algumas sugestões. O importante é que a família toda entre nessa jornada.

Além disso, é possível incluir a comunidade nesse esforço contra a desnutrição. Adriane sugere apoiar iniciativas que garantam acesso a alimentos frescos, como doações a bancos de alimentos e hortas comunitárias. O combate ao desperdício também é essencial: utilizar a integralidade do alimento em receitas criativas pode fazer toda a diferença. Valorizar pequenos produtores e feiras locais é outra forma de tornar este cenário mais acessível. E, claro, apoiar políticas públicas que fortaleçam a segurança alimentar é imprescindível, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, que é vital para muitas crianças.

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