Ex-Comandante da FAB Revela Bastidores no Alvorada e Ameaça de Prisão a Bolsonaro
Em depoimento ao STF, o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Jr., detalhou as reuniões onde se discutiram medidas para impedir a posse de Lula na presidência. Tentativas de ruptura institucional no Palácio do Alvorada e discussões sobre prisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) marcaram o depoimento do tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, que foi ouvido como testemunha na ação penal que investiga a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Durante a audiência, Baptista Jr. relatou que participou de diversas reuniões no Alvorada, onde Jair Bolsonaro e seus aliados debateram estratégias para obstruir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. O então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, chegou a alertar o presidente de que, caso insistisse na tentativa de ruptura democrática, poderia ser preso.
Tnente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior foi ouvido em audiência nesta quarta-feira (21/5) no STF (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)Reuniões e Ameaças
Freire Gomes é polido, não falou com agressividade, mas foi isso que ele falou, afirmou o brigadeiro ao ser questionado sobre a ameaça de prisão. Baptista Jr. também confirmou que o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, mostrou-se disposto a apoiar Bolsonaro. Em uma das reuniões, ele disse que as tropas da Marinha estavam à disposição do presidente, relatou.
A postura de Garnier contrastava com a de Baptista e Freire Gomes, que buscavam dissuadir o presidente da ruptura institucional.
Discussões Sobre a Prisão de Moraes
Um dos momentos mais desconfortáveis para Baptista Jr. foi quando surgiu a hipótese de prender o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele descreveu essa conversa como um brainstorming, onde a ideia foi levantada de maneira especulativa.
Eu lembro bem, houve a seguinte discussão: Vai prender o Alexandre de Moraes, presidente do TSE? Vai. Amanhã o STF vai dar um habeas corpus para soltar esse. E aí, vamos fazer o que, vamos prender os outros 11?. Mas isso era um brainstorming, buscando uma solução que estava no campo do desconforto, contou ele na audiência.
Minuta Golpista e Relatório Sobre as Urnas
Baptista Jr. também revelou que tomou conhecimento de uma minuta golpista apresentada pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em uma das reuniões. O documento previa a reversão do resultado eleitoral e estava plastificado sobre a mesa. Diante do silêncio dos presentes, ele percebeu que a proposta era séria e se retirou imediatamente da reunião.
Além disso, o ex-comandante relatou que Bolsonaro tentou adiar a divulgação do relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas, reforçando a tese de que o ex-presidente agiu para sustentar narrativas falsas que embasassem a tentativa de golpe.
Confirmação de Declarações Anteriores
Seu depoimento corroborou declarações feitas anteriormente à Polícia Federal (PF), indicando que Freire Gomes foi decisivo para impedir a tentativa de ruptura democrática. Baptista Jr. afirmou que, se o comandante do Exército tivesse concordado, o golpe poderia ter ocorrido.
O tenente-brigadeiro foi convocado como testemunha pela Procuradoria-Geral da República e por defesas de réus no processo que investiga o Núcleo 1 da trama golpista, cujos principais acusados incluem Jair Bolsonaro, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid e Braga Netto.
Todas essas figuras respondem por crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e deterioração de patrimônio público. As audiências da Ação Penal 2668 estão previstas para ocorrer até 2 de junho e devem trazer novos detalhes sobre os bastidores da trama de golpe de Estado.
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